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FORRÓ: UMA ANÁLISE DA POPULARIZAÇÃO DA NOVA TEMÁTICA DO FORRÓ MODERNO

Jarlene Morais

UERN – Departamento de Comunicação Social


Resumo: No Nordeste brasileiro, o forró impera absoluto nas rádios, eventos e vendas de CD’s. Indubitavelmente, é preferência regional. O que tem se tornado questão de discussões acerca do forró ultimamente é o “desvio” que o gênero tem sofrido em relação ao forró raiz. O ritmo sofreu modificações, suas letras também. O que o artigo vem abordar é essa mudança temática presente no forró moderno, tomando como ponto para análise as músicas de Luiz Gonzaga e da banda Aviões do Forró, procurando compreender a popularização dos temas atualmente abordados: o que se tem hoje no mercado musical é uma forma de modernizar ou uma tentativa desenfreada de vender, acarretando uma perda de identidade e valorização do próprio gênero?

Palavras-chave: Forró Tradicional, Forró Moderno, Identidade, Valorização.

Abstract: In Northeast of Brazil, the forro is the unique king in radios, events and sales of CD's. Undoubtedly, it’s the favorite rhythm in this region. The "diversion" that the genre has suffered from the roots of traditional forro has become matter of discussion lately about forro. The rhythm has changed, its lyrics too. This article will discuss this theme change in modern forro analyzing the music of Luiz Gonzaga and Aviões do Forró Band, trying to understand the popularity of the topics in their songs: what do we listen today in this kind of music is a way to modernize or a desperate attempt to sell products, causing a loss of identity and appreciation of their own?

Key-words: Traditional Forro, Modern Forro, Identity, Appreciation.



1. Origem do forró e hierarquização

O forró, presente hoje em praticamente todo o país, teve sua origem no Nordeste. A versão mais popular sobre a origem da palavra forró é que ela deriva-se da expressão inglesa FOR ALL (para todos), que vinha escrita nas placas, nas portas dos bailes promovidos pelos ingleses vindos para Pernambuco para trabalhar na construção de ferrovias. Ela indicava que todos podiam entrar na festa, a qual trazia ritmos parecidos com o forró que temos hoje. Há ainda a versão do historiador Luis da Câmara Cascudo, que defende a origem da palavra ao termo africano “Forrobodó” (festa, bagunça) que, com o tempo acabou sendo reduzido a apenas Forró.
O forró tornou-se o representante musical da identidade e da realidade do povo do Nordeste brasileiro, com seu ritmo e suas letras que falavam da seca, da devastação, solo rachado, trabalho, luta, sofrimento e lamentações.
Desde o baião dos anos 40 de Luiz Gonzaga ao forró estilizado contemporâneo, o gênero musical sofreu algumas modificações no ritmo, na forma de acompanhamento e mesmo nas denominações. Xote, xaxado, arrasta-pé, pé-de-serra, bate-coxa, vaneirão, lambaforró, oxentemusic... Antes regado à sanfona, zabumba e triângulo, hoje se constitui de bateria, guitarra, baixo, teclado e outros instrumentos musicais modernos, com temas e danças que insinuam sensualidade e a pornografia im(ex?)plícita em letras de duplo sentido.
O forró de Gonzaga – e por que não citar Jackson do Pandeiro, Marinês, João do Vale, Severino Januário, Zé Gonzaga, Elino Julião, Sivuca e outros mestres? - tinha uma finalidade cultural clara: a da construção da cultura de uma região, de institucionalizá-la. Juntamente com outros artistas, como afirma Rebelo (2007)
A música de Luiz Gonzaga nas décadas de 40 e 50 vai participar ativamente desta construção, com a peculiaridade de remeter e construir a imagem do sertão nordestino. Além de lembrar os tempos áureos, com temáticas rurais e nostálgicas, vai lembrar ao sertanejo imigrante no Sul, a época em que morava na sua terra natal e na delícia daquele tempo, confortando sua saudade e contribuindo para o fortalecimento do regionalismo cultural do Nordeste, especificamente do sertão. (p.04)
Fica clara aqui, dessa forma, uma divisão do forró em duas vertentes (o tradicional e o moderno), que dão origem a uma hierarquização do gênero. Trotta (2007) aborda o porquê dessa hierarquização analisando o gênero samba. Porém, suas ideias podem ser levadas em conta no presente artigo. Segundo ele, desenvolve-se estratégias de valoração na música de diversas formas, dentre elas estão as “representações vinculadas à sua própria trajetória”, ou seja, quanto mais próxima a música estiver das origens, dos elementos estéticos e afetivos do tradicional, dos símbolos do forró do passado, mais ela será valorizada porque dá a ideia de originalidade e continuidade.
Assim, por esse motivo, o forró moderno tem sido alvo de muitas críticas, - principalmente de intelectuais – que, mais coreografado, mais eletrônico, mas “industrial”, e em especial com suas letras trazendo um apelo sexual muito forte, se encontra muito distante do forró tradicional. Ariano Suassuna diz que esse forró estilizado “tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraias juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável e merecedor de maior atenção.” Sua preocupação aqui é com as letras pejorativas que vêm ganhando um espaço cada vez maior nos meios de comunicação e nas casas de família do Brasil, onde cada vez mais cedo, elas tornam-se parte do vocabulário e produto de consumo que agrada da criança à vovó. Produto que vende, e vende bem.

2. O que dizem as letras do forró moderno?

A temática mudou. Disso não há dúvida. Os lamentos do sertanejo, ou mesmo seu orgulho pela terra, o amor sem malícia, não têm espaço no repertório das bandas de forró contemporâneo. Entretanto, é preciso dizer que em meados dos anos 80 já se cantava músicas de duplo sentido que faziam todo mundo dançar. Genival Lacerda foi um mestre nelas. Incrivelmente, ninguém questionava suas letras. Até se divertiam com elas. O próprio Luiz Gonzaga gravou muitas músicas carregadas de certa malícia. Nada pejorativo. Até passavam despercebidas pela grande maioria.
Hoje em dia, porém, têm vez as raparigas, os cachaceiros, os cabarés, as fuleiras, as cachorras, os safados, as gostosas e uma infinidade de denominações e adjetivos que rendiam uma boa surra no tempo de nossos pais. Até mesmo os nomes das bandas fazem alusão ao sexo e alguns, reclamam os críticos, à pedofilia, como é o caso de Garota Safada, Moleca Sem vergonha, Menina Dengosa, Ferro na Boneca, Forró Acariciar, Calcinha Preta, Colo de Menina, Forró do Muído, entre tantas outras.

2.1. O que mudou?

• Mudou o espaço: o espaço relatado nas letras do forró tradicional remete ao sertão, ao espaço rural, local de vivência do sertanejo, o lugar da vida diária ou de descanso, de contemplação da natureza, embora essa às vezes o castigasse. Gonzaga cantava: “Seu Januário/Nesta festa de arraiá/ Quem dança, dança/ Quem dança, quer dançar...” E quem não conhece os imortais versos: "Quando oiei a terra ardendo/ qual fogueira de São João/ eu perguntei a Deus do céu, ai/ por que tamanha judiação...”? Já as letras do forró moderno remetem principalmente a bares, festas e cabarés: “De rapariga eu entendo/ Sou viciado, o meu consumo é mulher/ Eu fui criado numa mesa de baralho/ Em forró e vaquejada e bebendo em cabaré” e ainda: “Simbora beber/ simbora prum bar.../ Se você tá sofrendo de amor/não precisa chorar/ Se quiser curar essa dor/ é só me acompanhar pra mesa de um bar... “ entre tantas outras.
• Mudou a forma de ver o homem: o homem sofrido, trabalhador, envolvido no labor diário, romântico, herói de si mesmo e ligado à terra cantado nas músicas de Luiz Gonzaga (“Aonde está o homem/O homem da terra/ Que trabalha o chão?/É ele o herói sem nome/Que cultiva a terra/Que nos dá pão/ Olhando para o tempo/Tá pedindo chuva/Ou desejando sol/Rezando pra na dá geada/Que castiga tanto a sua plantação”)sai de cena para dar lugar ao homem namorador, caçador de farras, de mulheres e álcool (“Eu vou pr'um bar legal/ Eu vou beber até o sol raiar/ Tem que ser massa não ter hora pra parar/ A mulherada tá botando pra rasgar/ E o Avião tá botando pra lascar/ Ô seu garçom não pode participar/ Vamo zoar, zoar, eu vou beber, beber/ O rei da bagaceira procurando por você!...
• Mudou a forma de ver a mulher: no forró tradicional, tinha-se a mulher lutadora, braço direito do homem, mãe e também sofredora, que, ao mesmo tempo, era a mulher romântica, idealizada, digna de adoração, pela qual o sertanejo se derramava de amor, como na canção de Gonzaga: “Ana Rosa ai que saudade.../ Tô fingindo de viver/ Eu com asa eu avoava/ Na mesma hora eu avoava pra te ver/ Em dezembro faz um ano/ Que amargo o meu sofrer/ E nas contas de saudade/ Um ano é dez a dor é mil, e eu sem você/ Ana Rosa doce amada!/ Só sem tu eu vou morrer/ E daqui o além da vida/ Não seja o fim,/ Pois eu jamais vou te esquecer!” Com a mudança da maneira de se ver o homem, muda-se, consequentemente, a forma de enxergar a figura feminina, que ficou reduzida a um objeto sexual, disponível. Isso é visível em letras como: “Hoje a mulherada fica por minha conta/ Só vai rolar gatinha, mulher que bota ponta/Mulher fuleira...”, tem também “pra sair com esta mulher/ Com o barulho da busina/ Com o cheiro de gasolina/ só não pega quem não quer”, outras ainda onde o sentimento de uma mulher não é valorizado: “Até que é bonitinha/mas é abestalhada/pegou o gordinho aqui/agora está apaixonada”.
• Mudou a forma de ver o trabalho e a vida: no forró tradicional, o trabalho era cantado como algo que enobrecia, dignificava o homem. Um exemplo está na letra da música de Gonzaga Acordo às quatro: “Levo comigo/ Minha foice e a enxada/ Vou seguindo pela estrada/ Vou pro campo trabaiá/ Vou ouvindo/ O cantar dos passarinhos/ Vou andando, vou sozinho/ Tenho Deus pra me ajudar.” No forró moderno, porém, não cabe mais falar do assunto. Tem-se a impressão de que o ócio é algo louvável quando ouvimos alguém cantando a vida como algo do qual devemos tirar o maior proveito possível através da bebida, da comida, das festas e do sexo, como na canção de Aviões do Forró que segue: “De bar em bar, de mesa em mesa/ bebendo cachaça, tomando cerveja/ Olha que foi no risca faca, que eu te conheci/ Dançando, enchendo a cara, fazendo farra, tô nem aí”.
• Por falar nisso, mudou a forma de ver o sexo: a vida vista pelos olhos dos compositores do forró tradicional permitia que o sexo fosse mencionado de forma romântica, implícita, deixando a malícia passar na maioria das vezes despercebido por quem ouvia: “O xamêgo dá prazer/ O xamêgo faz sofrer/ O xamêgo às vezes dói/às vezes não/ O xamêgo às vezes rói o coração/ Todo mundo quer saber o que é o xamêgo/ Ninguém sabe se ele é branco/ Se é mulato ou negro...” Atualmente, o sexo é uma constante nas letras de forró. Relata-se o que se fez, o que se faz e o que se quer fazer na cama, numa tentativa de exibicionismo do desempenho sexual. Trotta considera as canções da banda Aviões do Forró um bom exemplo de músicas que insistem nessa temática: “Quem é o gostosão daqui? Sou eu, sou eu, sou eu/ Vou te levar pra cama, vou te deixar na lua/ vou te lamber, vou te morder, safada/ você vai ficar tesuda/ vou te abraçar, vou te beijar, vou te deixar nas nuvens/ é loucura de amor/ eu sou força total/ no sexo sou campeão, vamos fazer amor.” Outro bom exemplo: “Mas se eu te pego do meu jeito/ Do jeito que estou a fim é/ Tchan, tchan, tchan, tchan, tchan, tchan,/ deixo você bem molinha./ Se te pego de jeitinho ou do jeito que eu tô afim/ É tome, tome, tome, tome, tome,/ tome amor, sua danadinha.” E ainda a falta de compromisso com o sexo oposto: “Ah, eu não quero me amarrar... aaaaaa/ Não enche o saco e sai pra lá... aaaaaa/ Ah, eu não quero me amarrar...”

É imprescindível ressaltar que, embora mudado, e apesar das letras de canções usadas aqui como exemplos, ainda podemos encontrar presentes no forró moderno características do forró tradicional, e que é possível ver em algumas letras do forró tradicional elementos que não remetem apenas ao regional, ou seja, nem todas as letras de Luiz Gonzaga, por exemplo, cantam apenas a seca, o homem sertanejo, suas lamúrias e nem, muito menos, são totalmente ingênuas, da mesma forma que é possível encontrar nas músicas de Aviões do forró letras que falem do amor pelo outro e do amor pela terra. Não é uma generalização. A única coisa da qual se pode afirmar ser unânime é a preferência do nordestino pelo forró, seja qual for a sua temática.

3. Por que são tão populares?

Diante do que foi exposto acima, é estranho imaginar, e para alguns, admitir, que palavras e expressões que antes eram impensáveis de se ouvir e dizer em espaços públicos, hoje é algo comum e até bonito para a grande massa – quem nunca viu um pai ou uma mãe sorrindo ao ver a filha rebolando ao som de um forró desses ou o filho cantando que vai deixar a casa e morar num cabaré? E isso faz muito sucesso. Mas por quê?
Para Trotta, esse sucesso do forró moderno se explica porque ele possui elementos que “funcionam como eixo de identificação jovem, fundado no trinômio festa – amor – sexo...” e que todos os elementos simbólicos que remetiam ao forró tradicional (a seca, a migração, pobreza, saudade da terra, trabalho rural etc.), ou seja, “este referencial estereotipado não corresponde à situação atual do jovem urbano dos estados do Nordeste, que, não raro, recusa sua filiação pura e simples a este imaginário.” É um jovem que, segundo ele, procura outras identificações através de elementos e características de um novo momento na história, e de certa forma, a encontra na música (forró), que, por um lado, não deixa de reforçar sua herança cultural, e por outro, traz referências ao que é moderno.
O homem se sente atraído pela figura viril que é construída nas letras de forró, um homem incansável que conquista e satisfaz as mulheres, com energia para festas e bebedeiras.
Já o que atrai a mulher é o fato de ser cantada nas letras como um objeto de desejo do homem, uma mulher que chama os olhares para si.
A popularização desses novos temas foi um dos fatores decisivos para a consolidação comercial do forró no mercado retirando-o de um contexto de produção que já não condizia com a realidade da grande maioria dos nordestinos.

4. Concluindo

É indiscutível que essas duas vertentes do forró têm suas peculiaridades próprias. Por alguns críticos, o forró moderno nem deveria ser considerado forró devido ao seu afastamento das características do forró tradicional. Muitos radicais, ainda, nem consideram o forró como música, alegando que não há a necessidade de ouvi-la silenciosa e atentamente (como a música erudita exige), pois seu grau de elaboração é baixo – é possível constatar quando se ouve CD’s da grande maioria das bandas de forró que se tem no mercado que a mesma “batida” se repete em todas as canções, ou seja, percebe-se que não houve aí nenhum esforço para a composição de melodias.
Do outro lado, os defensores do forró moderno poderiam dizer que o ritmo busca a participação e o envolvimento do público, em outras palavras, o forró moderno foi feito pra ser dançado, e não ouvido.
Apesar de todo esse preconceito que o cerca, o forró moderno continua sendo e continua a crescer como um fenômeno de vendas de CD’s – ainda que piratas – e de audiência em shows e nas rádios do Nordeste.
O público jovem, principalmente, da última década vê cada vez mais seus desejos expressos nesse ritmo extremamente dançante e sensual. Seja homem ou mulher, ali o jovem se identifica e passa a construir sua própria identidade. Aí também ele percebe que existem muitos outros jovens com as mesmas ansiedades e desejos. É uma “tribo”. Já os não tão jovens vêem nele uma forma de afirmar-se numa sociedade moderna e mutante.
Rebelo (2007) defende que não é uma questão de perda de identidade, e sim, de acompanhar as mudanças históricas. Segundo ele

Não foi um ritmo que ficou estagnado e imóvel no tempo. Talvez pela sua suprema importância para a música popular brasileira que, assim como o samba, influenciou muitos músicos notórios e o modo de fazer música, ele venha sempre sendo lembrado, gerando o desejo de ser de alguma forma usado para contribuir em novas criações e sendo constantemente inspiração para músicos. Talvez não tenha desaparecido, estando sempre vivo e em profunda dinâmica, pelo prestígio que o gênero represente musicalmente, o que faz alguns grupos se apoderarem do termo como símbolo de qualidade, mesmo não possuindo consideráveis semelhanças com o original... (p.08)

Dessa forma, o Forró, assim como inúmeras outras manifestações culturais, foi um gênero musical que acompanhou o movimento de transformações ocorridas na sociedade ao longo da história. Esse forró “atualizado” incorpora elementos característicos do forró tradicional em alguns aspectos e não em outros. Embora mudada a temática, o forró continua sendo o gênero que melhor representa a cultura nordestina.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TROTTA, Felipe. O Forró Eletrônico no Nordeste: um estudo de caso. UFPE. www.seer.ufrgs.br/index.php/intexto/article/download/10321/6029. Acessado em 03/01/2010.

¬_____. Música Popular e Qualidade Estética: estratégias de valoração na prática do samba. Trabalho apresentado no III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, realizado entre os dias 23 a 25 de maio de 2007, na Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.

http://letras.terra.com.br/

VELOSO, Jalber. A História Do Forró: O Ritmo, A Dança, A Música. http://pt.shvoong.com/internet-and-technologies/378747-hist%C3%B3ria-forr%C3%B3-ritmo-dan%C3%A7a-m%C3%BAsica/. Acessado em 02/01/2010.

SUASSUNA, Ariano. http://www.vooz.com.br/noticias/critica-de-ariano-suassuna-sobre-o-forro-atual-10842.html. Acessado em 02/01/2010.

REBELO, Samantha Cardoso. AS CONEXÕES DO FORRÓ COM DIFERENTES REALIDADES NA SUA TRAJETÓRIA. Trabalho apresentado no III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, realizado entre os dias 23 a 25 de maio de 2007, na Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.




AS NOVAS TECNOLOGIAS E SUAS INFLUÊNCIAS NO COTIDIANO

Jarlene Morais - Jornalismo

Universidade do Estado do RioGrande do Norte - UERN
Departamento de Comunicação Social- DECOM
Jornalismo – 3º período


Resumo: Será apresentada neste artigo uma reflexão sobre a influência das novas tecnologias no cotidiano dos indivíduos, já que elas têm imensa penetrabilidade na existência da coletividade. Pretende-se expor, assim, seus aspectos positivos e negativos que modificam organizações, sociedades, conceitos, comportamentos e valores; que dão um novo significado à interação, ao espaço e ao tempo; que contribuem e afetam o ambiente; que oferecem e impõem novas formas de ver, ouvir, interpretar e sentir.

Palavras-chave: tecnologias, sociedade contemporânea, informação, comunicação.

Abstract: A reflection about the influence of new technologies in daily life will be presented in this article, once they have great penetration in the existence of the community. The aim is the exposition of their strengths and weaknesses which change organizations, companies, concepts, behaviors and values, giving new meaning to interaction, to space and time, contributing and affecting the environment, offering and imposing new ways to see, hear, feel and interpret.

Key words: technologies, contemporary society, information, communication.


1. Introdução

A história da humanidade foi marcada pelo desenvolvimento contínuo dos meios de se obter informação e de realizar a comunicação e tarefas do dia-a-dia. A tecnologia é o maior agente das transformações ocorridas na sociedade, desde as mais simples ferramentas desenvolvidas pelo homem pré-histórico até os mais sofisticados de última geração que temos atualmente.
As trocas de comunicação eliminaram a questão espaço-temporal após a invenção da imprensa por Gutenberg. A Revolução Industrial veio trazer mudanças no território econômico-social que se prolongam até hoje. A partir de então, tudo acontece num ritmo cada vez mais acelerado. Temos hoje ao nosso alcance o que considerávamos improvável há alguns anos. Estão ao nosso dispor aparatos que satisfazem nossas necessidades, desejos, criam outras necessidades, fornecem ferramentas para desenvolver nossa criatividade e caminhos para novas experiências. Aparatos que McLuhan (1969, p.299) chamou de extensões do homem, isso porque já não são apenas instrumentos a serem utilizados pelo homem, mas veículos que interagem com o indivíduo e proporcionam novas possibilidades sensórias e mentais. Kenski (2003, p. 25) no seu livro Tecnologias e ensino presencial e a distância disse ainda que as tecnologias de comunicação e informação não são mais vistas como tais, “mas como complementos, como companhias, como continuação de seu espaço de vida.”

2. Influência das novas tecnologias no dia-a-dia

Desde o barulhinho do despertador que nos acorda pela manhã ao apagar da luz num clique antes de dormir estamos rodeados por tecnologias: a água que sai da torneira da pia do banheiro, a escova de dente, o pão quentinho saído da torradeira, o ônibus que nos leva à faculdade... tudo é tecnologia e foi, certamente, um enorme passo para a sociedade de sua época, pequenas coisas do nosso cotidiano que até parecem já fazer parte de nós mesmos. Da mesma forma, as novas tecnologias das quais dispomos atualmente estão ganhando seu espaço no nosso dia-a-dia. A TV a cabo, as transmissões ao vivo, a participação dos telespectadores em tempo real, o MP3, o MP4, o MP5... o MP11, ipods, internet, computadores portáteis, pen drivers, celulares que permitem ver com quem estamos conversando, ou tudo isso em um só aparelho estão cada dia mais comuns. Estamos numa época de evolução do conhecimento acima de tudo.
O fenômeno da telepresença proporcionada pela realidade virtual já é uma constante na nossa vida diária, é “a supressão, através de mediações tecnológicas, da distância e da fronteira física.” (Lemos, 2008, p.156). O advento da comunicação e das novas tecnologias modifica o modo de ser e de viver do homem, influi nas suas relações sociais (THOMPSON, 1998). Kenski (2003, p. 23-24) coaduna com esse pensamento ao dizer que

As novas tecnologias de informação e comunicação, caracterizadas como midiáticas, são portanto, mais do que simples suportes. Elas interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirirmos conhecimentos. Criam uma nova cultura e um novo modelo de sociedade. (Kenski, 2003, p. 23-24)

Elas criam linguagens, mudam os ambientes, padrões de trabalho, de entretenimento, de consciência.
No Trabalho, as novas tecnologias permitem maior agilidade e eficiência na realização das tarefas, pois pode-se estar em mais de lugar ao mesmo tempo, as informações são obtidas mais rapidamente, inclusive sobre as tendências e necessidades do mercado, além de ajudar na formação e capacitação dos profissionais.
Nunca a tecnologia esteve tão impregnada no Lazer das pessoas em geral. São jogos cada vez mais interativos, vídeo games, filmes, músicas, TV, a internet trazendo consigo as redes sociais, as comunidades virtuais sempre com uma capacidade maior de armazenamento de informações e dados.
Na Educação, o uso de novas tecnologias proporciona acesso, armazenamento e difusão mais rápidos de informação, ajuda em pesquisas, são quase imprescindíveis em palestras, exposições, apresentações acadêmicas, ensino à distância, conferências on-line...
Na área da Saúde, a medicina faz uso das novas tecnologias para a pesquisa e fabricação de remédios, dispõe de recursos cirúrgicos, precisão em exames e diagnósticos, aparelhos cada vez modernos, próteses, tratamentos e transplantes.
Atualmente, a capacidade de se copiar objetos e informações se expande e isso permite seu acesso a um número cada vez maior de pessoas. O original se desoriginaliza. Para Walter Benjamim, grande estudioso europeu, em sua obra intitulada A Obra de Arte na Época de Sua Reprodutibilidade Técnica (in MATTELART, 1999), esse grande aumento da reprodução resultaria em uma perda da aura, termo esse associado à autenticidade e ao valor cultural da obra copiada. Com isto, a criação tende a se tornar produção, e a fórmula substitui a forma, chegando a ponto de muitas vezes nem o próprio autor da obra reconhecer a mesma. Todos esses fatores propiciam um distanciamento espaço-temporal, uma vez que as informações agora passam a poder ser conhecidas não mais somente através das relações face a face.

3. O lado negativo

Considerando o exposto anteriormente, as novas tecnologias são muito importantes em nossas vidas atualmente, e de certa forma, indispensáveis. Pode-se criar os mais diversos usos para elas. É aí que reside o seu poder de sedução e encantamento e seu uso impróprio pode representar um perigo invisível para a sociedade. Tomemos como exemplo, o uso das novas tecnologias de informação e comunicação para exercer poder sobre outros, coagir, seduzir, praticar crimes financeiros, morais e sexuais, e ainda, o pior de todos os crimes, o crime contra si mesmo, a renúncia às próprias opiniões, ideais, aos próprios gostos, o abandono do convívio social em troca do virtual, enfim, a alienação.
Outro ponto de discussão com relação às novas tecnologias que surge incessantemente se refere à ‘socialização’ destas em todo o globo, uma vez que continentes inteiros, senão a maioria esmagadora da população mundial, não tem acesso a esses bens que trazem tantos benefícios e êxitos na vida dos indivíduos, permanecendo à margem do descaso, e do desinteresse.

4. Desafios

Durante toda a história da sociedade humana, as tecnologias têm determinado os padrões da vida humana. Hoje ainda, e mais do que nunca, elas determinam as formas de organização social e econômica de uma coletividade. Elas agem diretamente no nosso dia-a-dia em todos os seus aspectos. Elas nos colocam diariamente o desafio de estar sempre preparados para a exigência da sempre atualização e da informação constante que se renova a cada piscar de olhos; o desafio de encontrar os filhos antes que se percam trancados em seus próprios quartos; o desafio de não perder a privacidade, a identidade; o desafio de se apropriar sem se tornar propriedade, alienada e acrítica; e ainda, o desafio de oferecer a todos as mesmas oportunidades de desfrutar essas novas tecnologias, senão se estará abrindo um imenso abismo na sociedade, isolando, marginalizando os que a elas não têm acesso. O fenômeno da Globalização, sem dúvida, é fruto não só das tecnologias dos transportes, mas também das tecnologias da informação, que encurtam as distâncias, dissolvem as fronteiras. Fazendo uso da analogia feita por Pierre Lévy (1996, p.22), “...para os que não andam de trem, as antigas distâncias ainda são válidas.”


5. Bibliografia
BENJAMIM, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, in MATTELART, Michelle e Armand. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 1999.
MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix,1969.
THOMPSON, Jonh B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Tradução de Wagner de Oliveira Brandão, revisão da tradução Leonardo Avritzer. Petrópolis – Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 4ª edição, 2008.
LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996. (Coleção TRANS).
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distancia. 2ª ed. Campinas: Papirus, 2003.


Como escrever bem para o Jornalismo - Jarlene Morais

Há quem diga que para ser jornalista não precisa frequentar faculdades, apenas estar informado e escrever bem. Acontece que o fato de ser curioso, atualizado e escrever bem não faz de ninguém um jornalista.
Em primeiro lugar, a escrita é o resultado do hábito de ler – e ler de tudo, até o que não é bom – com a habilidade do pensamento lógico, ordenado e prático. Stephen Kanitz se referiu a essa prática ao dizer que escrever “não é talento, mas dedicação, persistência.” Isso porque não é suficiente saber usar as palavras para ser jornalista. Shakespeare e Vinícius de Morais provavelmente não seriam bons jornalistas, apesar de suas divinas obras. O jornalista tem que escrever para ser compreendido pelo seu leitor. Seu papel é informá-lo e não lhe dizer que é mais inteligente que ele. “Jornalismo não é só escrever bem, senão os romancistas, poetas, contistas etc seriam brilhantes jornalistas” disse Humberto Azevedo.

Escrever bem para o jornalismo é não excluir. Todos precisam da informação. Só é importante não confundir democracia com presunção. Para escrever bem para o jornalismo é preciso rever o próprio texto, enxugá-lo, para facilitar a vida do leitor. É ganhar credibilidade por não floreá-lo, escrever sem inventar nem caminhar para a literatura. É preciso ser claro e conseguir imprimir no texto suas marcas pessoais, o que não é fácil. Para escrever bem para o jornalismo é preciso não se limitar a ver as coisas por um ângulo apenas. Muitas vezes é necessário vê-las pelo avesso. E ler. Ler muito. E fazer muitas perguntas.

Escrever bem é não se limitar ao recolhimento das informações, é ler o que se encontra nas entrelinhas. É não desperdiçar as chances de escrever diferente o que os outros farão igual.

Escrever bem para o jornalismo, segundo Stephen Kanitz, é não impor sua conclusão. O jornalista respeitado e reconhecido é aquele que permite o leitor chegar às suas próprias conclusões. O bom jornalista é o que escreve para aquele que tem opiniões diferentes das suas. Aquele que escreve para aqueles que compartilham da mesma opinião não conseguirão mudar nem o próprio bairro.